segunda-feira, 16 de novembro de 2015


Insólito: UTILIDADE PÚBLICA



Todos somos iguais.

Todos sabemos isso.

Somos iguais também perante a lei, tanto nos direitos que nos confere, como nas obrigações a que nos vincula.

Sabemos, também, que aos mais desfavorecidos devemos
 todos nós e também a lei, dedicar um especial carinho e atenção.




Não quer, porém, isto dizer que, mesmo nas coisas mais simples, mesmo nas normas mais elementares e cujo cumprimento é possível por parte de qualquer cidadão, seja de permitir desvios e ostensivas desobediências, particularmente quando existem, seguramente, alternativas, e quando o espalhafatoso desrespeito à vista de todos se reflete, necessariamente, na imagem que outros povos e sociedades dos quais economicamente dependemos têm de nós.


Referindo-me ao caso concreto que hoje venho partilhar, não me parece admissível que, a pernoitar ao relento num local por onde, diariamente, passam centenas de turistas das mais diversas nacionalidades, haja uma sucessão interminável de pessoas sem abrigo que utilizam o chafariz que, no Largo do Correio-Mor, foi edificado para "Utilidade do Público" como lavatório para as suas quotidianas abluções.


Muito menos, que as executem da forma espalhafatosa, se não provocatória, mesmo,
de que as imagens mais não dão do que uma pálida ideia.

Ou que, por todo o Largo, se encontrem outros pertences dessas pessoas que os turistas que por lá passam vão fotografando, talvez para levar para as suas terras natais uma ideia mais nítida da realidade humana lisboeta.


Tudo isto se passa mesmo em frente à CPLP, e praticamente nas barbas da Secretaria-Geral do próprio Ministério da Administração Interna, de quem depende a PSP, responsável pelo policiamento da via pública alfacinha.

Custa-me, também, aceitar que, tratando a Polícia de, pontualmente, assegurar a deslocação para outras paragens de um ou outro locatário do Largo do Correio-Mor, logo de seguida outro ali se instale, semanas ou meses a fio, até que algum agente lá se lembre de, finalmente, o convidar a mudar-se.

Não se diga, por fim, que a situação se mantém e se repete por não ser a sua prevenção ou repressão da competência dos agentes de serviço na Secretaria-Geral do Ministério:  quanto entram e saem do serviço vêem, necessariamente o que, todos os dias sem exceção, se passa no Largo do Correio-Mor, mesmo ali à porta.  Mas, ao que parece, não reportam, nem chamam o carro-patrulha para que se ocupe de procurar resolver a situação..

Ah, mas ainda não valei da Câmara!


A Câmara Municipal de Lisboa, vai, passivamente, assistindo à degradação da imagem nacional, enquanto se entretém a promover obras descabidas nas Avenidas Novas, e a licenciar a construção, na Baixa alfacinha, de hotéis e mais hotéis;  por outras palavras, a garantir que, quando daqui a uma meia dúzia de anos, boa parte desses estabelecimentos estiver devoluta o Misérias de Lisboa continuará a ter o que fotografar:  hotéis devolutos, testemunhos de uma então extinta via fácil, mas efémera, para captar receitas turísticas, perante uma mais do que comprovada incapacidade para captar residentes para a Baixa de Lisboa.

As modas passam, e o mercado não chega para todos.
Isto, só não vê quem não sabe - ou prefere não saber - contar.


Até lá, pelo menos façam umas obrazinhas no chafariz, que delas bem precisa, e...  se não tiverem, mesmo, meios para resolver a situação social de quem por ali costuma ficar, façam-nos ver que existem, por certo, outros sítios onde pernoitar.


Ou, então, desistam dos hotéis, dos tuk-tuks e dos turistas.

Assim, na "balda", é que não me parece que o turismo na Baixa vá prosperar.



Este local situa-se na área geográfica de intervenção da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior.



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segunda-feira, 9 de novembro de 2015


PALACETE MANTERO BELARD






Em terrenos municipais, num cantinho não recuperado da Quinta das Conchas, ao Lumiar, encontramos o que não passa já da carcaça de um outrora belo palacete mandado construir, no início do séc.XX, por Francisco d'Assis Mantero Belard Junior - cuja história se encontram amplamente narradas nos links ao fundo desta página.

Dos seis milhões e meio de euros gastos na recuperação da Quinta, nem um euro foi destinado à velha ruína, que, aliás, é anunciada na planta que consta de um placard à entrada do parque.

câmara municipal de Lisboa




E não vale a pena dizer que não faz mal, que ali ninguém vê, porque aquela miséria está ali bem à vista de quem a quiser ver.
No local terão estado afixadas, em tempos, placas a afastar os curiosos, dada a iminência da derrocada que, provavelmente, continua a ameaçar o "edifício", já que não consta que, de então para cá, tenha sido objeto de quaisquer obras de consolidação.

No belo tríptico que se segue, podemos contemplar as salas ricamente decoradas e mobiladas, a imponente escadaria e os demais encantos que, nos nossos dias, caracterizam este encantador palacete.
CML
Em 2011, dizia uma fonte de um gabinete de um vereador que estava "a ser estudada uma solução que seja viável".

Já lá vão quatro anos.  Como demoram a pensar, estes vereadores!..
Até às próximas eleições autárquicas ?
Ou mais tarde ainda, já que o assunto não é eleitoralmente relevante?

HÉLICON : Il faut un jour pour faire un sénateur et dix ans pour faire un travailleur.
CALIGULA : Mais j´ai bien peur qu´il en faille vingt pour faire un travailleur d´un sénateur.
Albet Camus, in "Caligula"

Ou será por o palacete ter fama de casa assombrada?

Será supersticiosa, a nossa Edilidade?
Até quando, Senhores Vereadores,
irá a "casa assombrada" da Quinta das Conchas ficar para ali esquecida, a um canto?





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Aqui perto, veja também:
Campo Grande



Alguns Links:
Parque da Quinta das Conchas e dos Lilases (SIPA)
Um Palacete em Ruína na Quinta das Conchas no Lumiar
Obras de 6,5 Milhões de Euros Esqueceram Antigo Palacete
A História da Casa Assombrada da Quinta das Conchas
A Lenda da Casa Assombrada
Lendas sobre Casas Assombradas em Portugal
Os Belard

segunda-feira, 2 de novembro de 2015


IGREJA DE SÃO DOMINGOS



"A mais vasta, nobre e sumptuosa das que pertenceram a mosteiros em Lisboa*)

Falar, no Misérias de Lisboa, de uma das nossas igrejas mais antigas, pode, até, parecer heresia.

Mas reflitamos um pouco sobre o assunto, desapaixonadamente...

Durante a maior parte dos 56 anos que nos separam do fatídico 13 de Agosto de 1959 em que ardeu, a igreja esteve encerrada, sendo o culto assegurado na sacristia.

Após a instalação de uma cobertura em betão e metal para substituir a que o fogo consumira, parece apenas ter havido dinheiro para pintar algumas paredes.

No entanto, abriu, mesmo assim, ao culto, em 1994, a todos os visitantes mostrando um cenário verdadeiramente apocalíptico, sem que, no meio daquela miséria toda, tivesse perdido a grandiosidade.   De alguma forma, talvez ela tenha, até, saído beneficiada.

Desde então, o marketing eclesiástico tem funcionado em pleno, como pode comprovar-se pelas opiniões dos milhares de devotos e de turistas que, todos os anos, visitam aquela que a publicidade anuncia como "uma igreja única no mundo pela sua história, pela memória de glórias e desgraças, e por permanecer com as marcas do fogo" - referência que pode ler-se no tríptico de tamanho A4 disponível, por 1€, na própria Igreja.

Algo surpreendentemente, esta mensagem de "igreja única no mundo" parece estar a funcionar, a julgar pelo considerável número de velinhas que ardem em alguns altares.
Ora, é bem verdade que, após transpor a singeleza da fachada, não nos deixam indiferentes a dimensão do Templo e a beleza dos mármores, realçada pelo contraste rude com as marcas do fogo, que lhe dão "um charme todo especial", como um viajante escreveu, 

Mas não é menos verdade que praticamente qualquer igreja, como qualquer monumento, é "única no mundo pela sua história" e "pela memória de glórias e desgraças".

Em suma, a Igreja de São Domingos, em Lisboa, só é, verdadeiramente, mais única do que todas as outras porque...  ainda por lá ficou a maior parte das marcas do fogo.
Mas, se é este o principal critério, Lisboa tem, também, um outro monumento que quase posso garantir que é único no mundo:  um palácio onde os governos tomam posse e recebem os mais altos dignitários de outros países, todos eles entrando pela suntuosa - e mal cuidada - fachada principal, ignorando que a tardoz foi consumida pelo fogo e ficou, também há já muitos anos... assim.

É caso para dizer que talvez consigam aumentar o número de visitantes das exposições do Palácio da Ajuda publicitando-o como único no mundo porque... ardeu;  e aumentar, assim, as receitas até dar para, pelo menos, umas obrazitas à portuguesa, para disfarçar.  Já se viu por aí tanto disparate...

Voltando a São Domingos, talvez seja tempo de abrir um pouco os olhos e pousar os pés no chão;  e de nos lembrarmos de que o interior daquele monumento nacional é o de uma igreja ardida que (ainda ?) não foi restaurada, nem poderão alguma vez sê-lo as imagens e pinturas que o fogo levou.



Celebrado neste monumento à sua enorme força destruidora, o fogo foi implacável, e os danos que infligiu a obras de tamanha antiguidade e riqueza são algo que nem a mão dos mais dotados artistas poderá, alguma vez, reeditar.

Mas isso não impede que, sem lhe tirar o atual encanto, algo se faça no sentido de recuperar um pouco do velho templo, além da cobertura e de algumas paredes.










Como a deixaram, fica sempre, em quem visita a Igreja de São Domingos, o travo amargo do nosso bem conhecido e proverbial desleixo nacional.

Este local situa-se na área geográfica de intervenção da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior.



*) Pinho Leal, in "Portugal Antigo e Moderno" - Mattos, Moreira & Companhia - Lisboa, 1874 - , vol.IV, pág.245



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