segunda-feira, 21 de setembro de 2015


HOSPITAL MIGUEL BOMBARDA



Na Colina de Santana, onde entroncam a Rua da Cruz da Carreira, a Rua Padre Luís Aparício e a Rua Dr Almeida Amaral, encontramos o portão de acesso ao Convento Rilhafoles, vicentino, no qual, durante um breve período de tempo esteve instalado, no séc.XIX, o Colégio Militar.

De meados do séc.XIX até há alguns anos atrás, funcionou no Convento o Hospital Rilhafoles - mais tarde renomeado Hospital Miguel Bombarda -, destinado ao tratamento de doenças do foro psiquiátrico, do qual um dos diretores foi o Dr Manuel de Almeida Amaral, que deu o seu nome à já referida artéria, que tivera, outrora, o nome do Convento.

câmara municipal de Lisboa


Durante longas décadas, estes inexpugnáveis muros ocultaram, assim, a liberdade por alguns sonhada e, para outros, apenas imaginada.  Talvez...


Mas os muros nada protegem contra a ganância de alguns filisteus:  o Miguel Bombarda vai morrer.
CML

Manuel Salgado
Nos dias 10 a 13 do corrente mês de Setembro de 2015, promoveu a Câmara Municipal de Lisboa a cabo, na Colina de Santana, a sétima edição do Festival TODOS, com o subtítulo "Caminhada de Culturas 2015".

Atendendo, porém, à intensa pressão para que da referida Colina emerja, florescente, o apimentado - ou, talvez melhor dizendo, "salgado" - projeto de urbanização garantida que esteja a destruição do Hospital Miguel Bombarda, dificilmente poderá considerar-se inocente a escolha do local em que decorreu o Festival.
Fernando Medina


A coberto do bodo de animação e cultura aos pobres, não se terá tudo tratado, muito simplesmente, de uma subtil, mas genial, operação de marketing imobiliário?  De, a pretexto de um evento cultural, levar à Colina de Santana potenciais futuros compradores de apartamentos nas torres que nos terrenos do Miguel Bombarda se irão, inevitavelmente, construir?





Acima de tudo, sejamos sérios, sim?  Será, também, coindicência que, na área protegida, estejam, já, a ocorrer demolições de edifícios afetos ao Hospital, promovidos pela imobiliária do Estado?

E que falta do mais elementar pudor é esta, de a CML - Estado - impor sanções pecuniárias à ESTAMO - imobiliária do próprio Estado?

Se me condenarem a tirar dinheiro de um açucareiro com notas que tenho em casa para o por numa caixa, também minha, que tenho lá em casa, qual o efeito, efetivo, dessa sanção?


Afinal, que hipocrisia oficial é esta, em que empresas de capital público violam, a seu bel-prazer, a lei, sem que sanções disciplinares recaiam sobre os responsáveis diretos por tais violações?

O Movimento de Apoio ao Museu Miguel Bombarda vai fazendo o que pode.

Mas o que poderá, verdadeiramente, perante os lucros chorudos prometidos pelo projeto, construção e comercialização das novas torres?  Como se o Museu e o Hospital nem existissem já!

A própria exposição que o Festival TODOS promoveu no Miguel Bombarda foi, aliás, um claro sinal da condenação à morte do edifício:  nenhum texto, nenhuma informação, nada sobre a história do convento ou do hospital.




Apenas fotografias a preto e branco de propaganda de edições pretéritas do Festival.




E projeções, em écrans feitos de lençóis,
de imagens descoloridas de rostos desfigurados dos infelizes que ali estiveram internados.




Tudo cinzento, lúgubre, moribundo...

Entretanto, a animação irradiava de outros pontos da Colina de Santana;  essa sim, promovida com esfuziantes manifestações de cor e de alegria, para atrair os incautos que se deixem seduzir... esquecendo, por exemplo, as paupérrimas acessibilidades que irão servir as nóveis construções que irão habitar.





Como se trata de propriedade pública e nenhum entrave foi posto à minha circulação ou captação de imagens quando visitei o Hospital, deixo-vos acima, para memória futura, algumas fotos que, depois de arrasados os edifícios que restam - e que, obviamente, tudo será feito para que não cheguem a ser classificados -, poderão, mais tarde, servir para documentar mais uma demonstração da fina sensibilidade de alguns dos que governam a nossa culturalmente cada vez mais depauperada Cidade.





Deixo, também, um breve testemunho, afixado em algumas montras, do esforço que o inquebrantável ânimo de algumas pessoas de boa vontade tem desenvolvido para procurar evitar...  o inevitável.

O Miguel Bombarda vai desaparecer, os apimentados ou salgados projetos vão florescer naqueles tão apetecíveis 43.347m², e novas torres vão brotar numa Lisboa que tanto baldio tem e vai continuar a ter.
O que, na verdade, nos bastidores se passa, não se sabe.
Ninguém diz.
Apenas nos é dado adivinhar.

If people don´t know what you´re doing,
then people don´t know what you´re doing wrong.
"Yes, Minister" - "Sir Arnold Robinson"

- x -

A propósito de uma das artérias que nos levam ao Hospital Miguel Bombarda, conheci,
nos meus primeiros anos de vida,
o Padre Luís Martins Aparício, pároco de uma pequena igreja na Rua de Santa Marta.

Anos mais tarde,
foi ele o promotor e grande impulsionador da construção da nova Igreja do Sagrado Coração de Jesus.

Lisboa homenageou-o dando-lhe o nome de uma pequena rua.

Independentemente de credos e de confissões religiosas, seja-me também permitido deixar,
em post scriptum, uma sentida homenagem a um Homem Bom.



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Alguns Links:

Casa da Congregação da Missão de São Vicente de Paulo / Hospital Miguel Bombarda / Hospital de Rilhafoles (SIPA)

Memória Descritiva para o Loteamento Miguel Bombarda (CML - 2013)

O Património que o Projecto da Sogestamo Prevê Destruir no Hospital Miguel Bombarda

Candidatura para a Classificação, de Interesse Público, de Imóveis do Ex Hospital Miguel Bombarda

Hospital Miguel Bombarda Prestes a Encerrar (2011)

Associações Criticam os Projectos e o Prazo de Doze Dias do Período de Discussão Pública

Miguel Bombarda:  O que fazer com Este Património?

Os Passos Sem Saída dos Alienados de Rilhafoles

O Hospital de Rilhafoles e os Asilos de Alienados na Europa do Século XIX

De Rilhafoles à Psiquiatria

Casa da Congregação da Missão de Rilhafoles  ( Torre do Tombo )

Hospital de Rilhafoles / Hospital Miguel Bombarda  ( Torre do Tombo )

Convento de Rilhafoles

O Colégio em Rilhafoles

Rilhafoles e o Casal Novo

Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa

Miguel Bombarda ( Wikipedia )

segunda-feira, 14 de setembro de 2015


AVENIDA 24 DE JULHO


A parede até está arrajnadinha, por fora;  mas o 10 da Avenida 24 de Julho não existe e,
tão cedo, não vai existir.


Depois de ter servido para estaleiro das obras da nova sede de uma empresa de eletricidade, atrás da parede, vai ficar mais um terreno devoluto, para o qual não consta que haja destino definido.


Um pouco adiante, à esquina com a Rua do Instituto Industrial e mesmo antes do stand de automóveis que ardeu (v. Cais do Sodré - Oeste), esta instalação industrial encontra-se devoluta há bastante tempo.
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Depois... um estacionamento ad hoc, particular ---->.






Este mono, mesmo à esquina das Escadinhas da Praia, está há tanto tempo assim, que já lhe chamam o "emblemático" edifício da Garagem Conde Barão.

Diz-se que vai ser reabilitado.  Mas anuncia-se tanta coisa, que fica sempre aquela dúvida incómoda.

Admitindo que o será, sim.  QUANDO?

Quantas derrapagens no prazo e quantos placards esbatidos depois?





Aqui, funcionou um restaurante.
Agora, está vazio.
O que se seguirá?
QUANDO?




A uns blocos de escritórios com ar bastante soturno, segue-se meio quarteirão que parecem ter conseguido reabilitar sem lhe pôr um mamarracho pelo meio, o que sempre é de saudar.

Mas, logo a seguir, este infeliz, com placard na varanda e tudo, aguarda, há não sei quanto tempo, que alguém lhe ponha a vista em cima, ou dele se lembre.

Tendo em conta que no dito placard já nada escrito tem, há quanto tempo estará o "projeto em fase de apreciação"?

E a obra:  para QUANDO será?




Mesmo em baixo do Museu Nacional de Arte Antiga,
um pequeno baldio.
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Um pouco à frente, parece que alguns empresários da noite tiveram uma ideia genial:  para não incomodar os vizinhos com a barulheira que os seus estabelecimentos produzem, o melhor é, mesmo, instalá-los em prédios com os pisos superiores arruinados, e assim ninguém se queixa.

Não é novidade, claro.  Faz-se o mesmo junto ao Cais do Sodré.


Após uma sucessão de indiferenciados edifícios de escritórios (como os da CUF), chegamos à esquina com a Rua Tenente Valadim, onde encontramos o que parece ser uma unidade fabril desativada, que ainda não consegui identificar.
Não tem um dístico, uma referência... nada.
Limita-se, como tantas outras, a estar por ali.




Mais adiante, um outro mono, oco, ou quase.

Ao que tudo indica, uma outra instalação fabril há muito abandonada, cuja cobertura vai caindo aos bocados...  ali bem em frente à Direção Municipal de Ambiente Urbano da Câmara Municipal de Lisboa!








Aqui, podemos contemplá-la em toda a sua magnificência...

<-- ...e, nesta imagem, o seu sedutor e funcional interior.

Segue-se-lhe um enorme baldio, onde, ao que pude apurar, existiu, há muitas décadas, um importante armazém de ferro.


Para tudo isto olha a CML todos os dias, ou não estivesse ali mesmo em frente a sua DMAU.

Para quê, então, o ataque cerrado à Colina de Santana,
se aqui, na 24 de Julho, com muito melhores acessibilidades,
há tanta coisa para demolir e... edificar?



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Alguns Links:
Avenida 24 de Julho (Ruas de Lisboa com Alguma História)
Lisboa: Mais um Edifício da 24 de Julho que Vai Ser Reabilitado
Sinais de Perigo na 24 de Julho

domingo, 13 de setembro de 2015


PALÁCIO DAS ÁGUIAS




Palacete setecentista com entradas pela Rua da Junqueira e pela Calçada da Boa Hora.

"Sumptuosíssimo palácio, deliciosa quinta e belissimo jardim dos srs. viscondes da Junqueira, no sitio d'este nome, na margem direita do Tejo, freguezia de Belém. É das mais bellas vivendas da capital e de todo o reino. 

Chama-se quinta das Águias por causa de duas enormes aves d'esta espécie, feitas de mármore e que rematam as columnas que fecham a entrada principal".

câmara municipal de Lisboa

A esta emocionada referência de Pinho Leal*), corresponde, nos nossos dias, um palacete abandonado, vandalizado, portas escancaradas, tetos caídos, graffiti pelas paredes dos salões, indícios claros de ser frequentado por pessoas sem abrigo e por toxicodependentes.
CML



Entrei pelo portão aberto que dá para a Calçada da Boa-Hora, e explorei a Quinta e o Palácio, correspondendo ao amável convite à esquerda de quem entra.



Fernando Medina


A fachada com que deparei assim que entrei, encontra-se neste estado.
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O que terá sido, em tempos, um deslumbrante jardim, está , hoje, completamente a mato,
e é este o desolador aspeto da fachada principal.



Pelas várias janelas abertas da fachada e do sótão, a água da chuva entra como e quando quer, até que a derrocada do interior acabe por acontecer.

Ao que apurei, ninguém lá vai, ninguém cuida daquilo.

Está para ali à espera.  De quê, ninguém parece saber.


Um manto de silêncio parece envolver a Quinta das Águias e o seu outrora belo Palácio.

Quem estará a tolher os movimentos de quem tem responsabilidades sobre este espaço?

Apesar de se tratar de um imóvel de interesse público, e apesar do estado lastimoso em que se encontra, dele pouco ou nada se ouve falar.

If people don´t know what you´re doing,
then people don´t know what you´re doing wrong.

"Yes, Minister" - "Sir Arnold Robinson"


*) in "Portugal Antigo e Moderno" - Mattos, Moreira & Companhia - Lisboa, 1873 - , vol.I, pág.40





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Alguns Links:
Palácio das Águias (Abandonados)

sexta-feira, 11 de setembro de 2015


LUNETA DOS QUARTÉIS



Um miradouro em Monsanto, com um restaurante encerrado e vandalizado.


Não é, infelizmente, novidade:  temos, também, o Restaurante Panorâmico.


Mas, de miradouro, a Luneta dos Quartéis já tem, em boa verdade, muito pouco.

Em parte, porque a vegetação que deixaram crescer no campo de visão oculta  a paisagem; em parte, porque a própria paisagem já pouco mais é do que betão e mais betão.



Há muitos anos perdidos os encantos, há muitos anos, também, o restaurante fechou, e para ali ficou, vandalizado, o telhado num estado miserável, nada mais para dar, nem alguém para lhe pegar, já que o sítio não convida a investir.


Mas não será, mesmo, possível fazer da Luneta alguma coisa agradável ou, pelo menos, voltar a torná-la minimamente decente, respeitável?




Esquecer, por exemplo, o restaurante e aproveitar para utilizar o edifício como estrutura de apoio a quem ainda por lá passa para repousar um pouco ou, mesmo, para umas caminhadas na mata?

Será assim tão difícil tomar uma decisão tão simples?

Já se sabe que não é uma zona turística, mas... será que ninguém vê o mau aspeto que aquilo dá?


Uma verdadeira miséria, que nem uns muito tímidos graffiti conseguem animar.














Falou-se, há uns anos, em erigir ali um templo, já que a Câmara Municipal de Lisboa tinha, finalmente, conseguido livrar-se daquilo cedendo o que resta do mono a uma congregação.

Até se noticiou o lançamento da primeira pedra, mas...
até agora, parece que nada mais aconteceu, ou estará para acontecer.

Mesmo no caso de cedências, não haverá prazos para estas coisas?
Se não há, devia haver.

Parece claro que, tendo conseguido livrar-se da batata quente,
a CML esfregou as mãos de contente, e nunca mais pensou no assunto.

Enfim, imortalizemos, pelo menos, um sofrido poeta
que, num muro do miradouro, gravou o seu já esbatido desabafo...




... e esperemos que, talvez com o tempo,
a Luneta dos Quartéis rejuvenesça,

e acabe por voltar a valer a pena o desvio para ir até lá.








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Aqui perto, veja também:
Restaurante Panorâmico de Monsanto



Alguns Links:

Lisboa:  Arrancaram as Obras do Grande Templo Budista de Monsanto

União Budista Recolhe Apoios para Construir Templo no Parque de Monsanto
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