in memoriam
Quem, como eu, passeava, em tempos há muito idos, com Mãe, Avó e Tias pelas ruas da Baixa Lisboeta, conheceu, sem dúvida, a centenária Drogaria e Perfumaria S Pereira Leão, no 223 da Rua da Prata, in illo tempore meu ponto de romagem obrigatório e, até há alguns meses, um dos últimos bastiões do comércio tradicional alfacinha.
Naquela que foi a antiga Drogaria Alvarez pontificou, durante muitos anos, o Senhor Carvalho, presença sempre simpática e afável num balcão onde encontrávamos um pouco de tudo: pasta medicinal Couto, lavanda da Ach Brito, sabonetes Feno de Portugal, pinceis para a barba, sabão macaco, grandes frascos de vidro com os mais variados perfumes a granel e sei lá quantas coisas mais, sempre impecavelmente expostas em tradicionais vitrinas montadas em madeira, como hoje não se fazem e poucas restam, já.
Com o andar dos tempos, a oferta foi-se diversificando, foi-se atualizando, sem, todavia, esquecer os produtos tradicionais, que, tal como o atendimento atento e personalizado, sempre foram a imagem de marca da Alvarez, como durante muito tempo ainda lhe chamaram.
A clientela diversificou-se, também, sendo muitos os mais jovens que, ávidos da vivência de um passado que nunca conheceram, demandavam esta e outras lojas da Baixa outrora frequentadas por avós e pais.
Mas o "progresso" não pára, e não tem limite a voracidade dos fariseus que vão, não apenas consentindo, mas, até, incentivando a transformação, num gigantesco parque hoteleiro, daquilo que resta da nossa Baixa, deixando, à sua passagem, o desolador rasto de destruição de quem não hesita em arrasar a cultura e a nostalgia lisboetas em prol de mamarrachos, de monos sem beleza, sem memória, sem tradição, sem História, enfim.
A Baixa é, cada vez mais um monumento ao vazio cultural e intelectual, ao que é oco, ao hoje tão louvado "empreendedorismo", na sua forma mais selvática e predadora; pelo menos, para meia dúzia de papalvos que parece babar-se de cada vez que contempla a "obra" feita sobre a outra desfeita, e dela se gaba como se de grande coisa se tratasse.
Começou, assim, a liquidação do stock e do imobilizado, as promoções... até que a S Pereira Leão abriu, pela última vez, as suas portas no passado dia 31 de Março. Para quê?
De nada valeram protestos, manifestos, petições.
Vem aí mais um hotel para a Baixa! Outro!
E lá morreu mais uma loja tradicional. Outra!
Na terra onde os elétricos se vão indo e ficando os tuk-tuks em vez deles, também a História se vai esbatendo na imparável destruição dos seus marcos, substituídos por "coisas" incaracterísticas, muito ao gosto de quem o não tem; e, certamente, nada apelativas para quem nos visita, que, na Baixa Lisboeta, sempre encontra camas e mais camas, e cada vez menos o que ver, aquilo por que cá vem.
Há, um pouco por toda a Cidade, obras abandonadas, projetos infindáveis.
No entanto, tal é a pressa de faturar, que escassos meses após o encerramento da S Pereira Leão, para ver já resta, apenas, mais um edifício esventrado, uma fachada semi oculta por uma rede em que os contornos dos andaimes se confundem com o ferro das varandas que vão sobrevivendo.
No 223 da Rua da Prata, a tradição deu, uma vez mais, lugar à miséria da mediocridade e das patacas.
Para que ninguém esqueça, aqui fica, assim, mais uma, singela, entre tantas outras homenagens
ao Senhor Carvalho, à Drogaria e Perfumaria S Pereira Leão,
e a quantos a acompanharam até que outros lhe ditaram o fim.
e a quantos a acompanharam até que outros lhe ditaram o fim.
Nota: as imagens da loja datam de 20.11.2015
Este local situa-se na área geográfica de intervenção da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior
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Alguns Links:
Drogaria S. Pereira Leão (Facebook)
Manifesto Para uma Cidade das Pessoas Contra o encerramento da Drogaria S.Pereira & Leão, ou a sua transformação num pastiche vintage
Drogaria e Perfumaria S. Pereira Leão (A Arqueologista)
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