terça-feira, 5 de setembro de 2017


Insólito: CICLOVIA PARA AUTOMÓVEIS


Durante várias décadas existiram, no troço da Avenida Visconde de Valmor compreendido entre, de um lado, o cruzamento com a Avenida Magalhães Lima, Rua de Dona Filipa de Vilhena e Rua do Arco do Cego e, do outro, o cruzamento com a Avenida dos Defensores de Chaves, duas faixas de rodagem;  e também, de cada lado da Avenida, um estacionamento longitudinal.

Tudo corria, neste cenário, às mil maravilhas.

Eis senão quando sentiu a nossa Querida Edilidade uma irreprimível necessidade de dotar a dita artéria de uma ciclovia.  Talvez, quem sabe, para que a enorme quantidade de alunos que se desloca de e para o Liceu Filipa de bicicleta - se houver uma dúzia, tiro o chapéu... - o possa fazer em maior segurança.

Meu dito, meu feito, a primeira coisa de que se lembraram foi eliminar a faixa de rodagem do lado esquerdo, que passaria a servir como estacionamento longitudinal;  e este, pintado de novo, como ciclovia.  Mas...


Do que os ilustríssimos e profissionais Técnicos da Câmara Municipal de Lisboa parecem não se ter lembrado foi de que as bicicletas são, em regra, mais estreitinhas do que os pópós.  E vai de reservar para a ciclovia a mesma largura de faixa que, anteriormente, estava destinada ao estacionamento dos últimos.

Como facilmente se pode constatar na imagem à direita, é, ainda, bem visível, escondidos a preto, o traçado dos anteriores lugares.


Ficámos, assim, com algo que bem poderia ser uma ciclovia para automóveis,
uma inovadora "autovia".




Resultado:

  • largas dezenas de centímetros de largura de asfalto ficaram desperdiçadas;
  • estas largas dezenas de centímetros poderiam ter sido muito mais bem aproveitadas, em parte, alargando um pouco a única faixa de rodagem que sobreviveu;
  • e, o resto, deixando algum espaço para que os condutores que estacionam à esquerda pudessem sair das suas viaturas sem ter de pedir licença aos pinos que demarcam a ciclovia.


Se não se lembraram...  já é mau!
Mas...  é tudo nos gabinetes?
Não há quem observe, quem fiscalize?
Quem vá lá??!!


Além de tudo o mais - que não é pouco -, parecem os competentíssimos Técnicos ignorar que nem todos os carros são Smarts e afins, e a largura dos lugares de estacionamento que foram marcados é insuficiente para a maioria das viaturas.

Simplesmente ridículo !

(Faz, até, pensar que os lugares foram desenhados pela mesma pessoa que, há meses atrás, tratou do traçado das faixas de rodagem da Avenida Fontes Pereira de Melo quando das também "importantíssimas" e "urgentíssimas" alterações ao Eixo Central - faixas essas de tal forma estreitas que aquilo teve de ser tudo redesenhado, tamanha era a ilegalidade...  Adiante).



Ao passar, reparei que andam, por ali uns buldozers a "arranjar o cabelo" da Rua do Arco do Cego.
Canteirinhos, cosmética, o costume...

Por que não aproveitar, então, as obras para arrancar aqueles pinos estapafúrdios,replantá-los mais à esquerda,e dividir o espaço correspondente entreos lugares de estacionamento e a
faixa de rodagem sobrevivente?



Afinal, errar não é vergonha.
Na CML, vai-se tornando um hábito, aliás.

Senão, lembremo-nos, não só, do que sucedeu com o traçado da Fontes Pereira de Melo, mas com o da Dona Filipa de Vilhena, quando alguém teve a ideia peregrina de eliminar o sentido Sul-Norte no quarteirão entre as Avenidas de António José de Almeida e Visconde de Valmor:

ao que apurei no comércio local, a confusão foi tanta,
e os engarrafamentos tais no troço de que aqui tratamos,
que a brilhante ideia durou uma ou duas semanas,
e logo voltou ao que era dantes.

Parece coisa de gente que tem ideias no papel, manda - não vai - experimentá-las no terreno à custa do erário público e, se não funcionar, gasta-se mais algum e volta tudo ao mesmo.

Se é para isto que existem técnicos, então até eu posso ser um deles, na base do "experimenta-se e logo se vê" !

Mas reparemos, por fim, nos rastos de borracha que ficaram marcados na bendita "autovia" de que aqui vos falo:  não parecem demasiado largos para ser feitos por pneus de bicicletas?

Vejam bem...


A resposta é bem simples:  aquilo são rodas de motas 125 que, na hora de ponta e sem possibilidade de ultrapassar os automóveis na única e estreita faixa de rodagem, aceleram pela ciclovia, em contramão, para conseguir ultrapassar!  Mesmo ao andar por ali de passagem, já vi várias, aliás...

Talvez por isso mesmo, os rastos cessam antes do cruzamento, e não continuam ao atravessar:  passados os pinos, as motas retomam a faixa de rodagem e seguem o seu caminho.


Devaneios de um sonhador?

Em todo o caso, ideias inúteis,
que, de alguma forma, o tempo - e a borracha - vão tratando de apagar...


Entretanto... cá estão os Alfacinhas para aguentar!



Este local situa-se na área geográfica de intervenção da Junta de Freguesia de AVENIDAS NOVAS 



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2 comentários:

  1. Boa tarde caro fotógrafo. Aprecio o estilo sarcástico com que faz as suas "observações" fotográficas.

    Na generalidade concordo com as suas observações, mas nesta em particular não queria deixar de informar que no caso em apreço se trata até de uma das ciclovias melhor pensadas e executadas em Lisboa.
    O espaço que refere, trata-se de uma margem de segurança que impede que um condutor distraído abra a porta e atinja o ciclista, acidente que, como poderá imaginar se pode revestir de muita gravidade para o ciclista.
    Por outro lado permite que o condutor tenha algum espaço de circulação para sair do local quando sai do carro, sem que esteja em cima da ciclovia a atrapalhar a circulação.

    Como lhe disse, está ciclovia foi muito bem pensada, porque até à circulação das bicicletas se faz no sentido oposto ao dos automóveis, o que a torna muitíssimo segura, impedindo o tal acidente da porta aberta.
    Mais houvesse..


    Felizmente nesta data em que comento o seu post cerca (de 1 ano após a sua publicação), já são centenas as bicicletas que cruzam aquela artéria :)

    Os cumprimentos de um ciclista
    Miguel Macedo

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  2. Concordo plenamente com o Miguel Macedo, os automóveis são um flagelo nesta cidade, é preciso promover transportes sustentáveis como a bicicleta.

    ResponderEliminar

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