segunda-feira, 12 de outubro de 2015


PRAXES EM LISBOA


Servem, teoricamente, para acolher os "caloiros";  para os mais velhos . e, supostamente,  mais experientes e mais sensatos - os ambientarem, para fazerem com que se sintam em casa, no meio dos seus pares do meio académico.

Enfim, a praxe académica serve, teoricamente, para que qualquer novo estudante, em qualquer universidade, se sinta bem.

As imagens abaixo ilustram dois simples casos - entre tantos, tantos outros - ocorridos simultaneamente que nos demonstram que a prática é, porém, bem diferente da teoria apregoada.
Ministério da Eucação
Na margem Leste do lago maior do Campo Grande, vemos, à direita na fotografia, um grupo de senhores quase doutores, trajados a rigor, que, com o seu ar iluminado e cativante, convenceram um conjunto de caloiros a aceitar ser praxados por eles.

Ora, o nível de acolhimento que encontramos nestas praxes em Lisboa vê-se logo qual é:  os desgraçados caloiros amontoados à esquerda, na imagem, estão para ali a ouvir os "sábios", quantas vezes a pouco mais proferir do que impropérios que obrigam os mais novos a repetir, aos berros, para grande incómodo de quem passa nada tendo a ver com toda aquela anormalidade.

Mas, no primeiro caso aqui documentado, o que espera os infelizes que não estão trajados de negro?
Universidade de Lisboa

Nada mais, nada menos, do que uma espécie de batismo com água do garrafão - vá lá, pelo menos não é a do lago, que até foi mudada há pouco tempo... -, em que lhes derramam o líquido sobre a cabeça, enquanto proferem o sempre disparatado e incongruente discurso característico da generalidade das praxes, sem ponta por onde se lhe pegue, e sem qualquer conteúdo - quanto mais didático ou acolhedor, como talvez fosse de esperar.

* * *

Por que razão, por vezes já bem dentro do ano letivo, os graúdos, vestidos a rigor, desperdiçam precioso tempo de estudo, deles e das suas voluntárias e imbecilizadas vítimas?

Faculdade de DireitoVítimas que a tudo se sujeitam, numa postura de acrítica subserviência e vacuidade intelectual, talvez a aprender como se faz para quando chegar a vez de serem eles a fazer o mesmo, numa interminável demonstração da paupérrima educação detida por básicos que, quantas vezes, nem duas frases seguidas conseguem alinhavar.


Por que motivo temos de assistir a estes tristes espetáculos em Lisboa, que nunca teve tal tradição?

As praxes, tão importantes para esta gentinha medíocre, até têm códigos de conduta, imaginem!  E os tipos que as promovem e orientam dão-se nomes de fazer inveja ao mais humilde elevado reitor!

Sabem, por exemplo, o que é um dux veteranorum?  O "estudante" que por lá "estuda" há mais tempo;  logo, provavelmente, um dos piores alunos, que nunca mais passa, e que vai ganhando estatuto através da antiguidade, apesar de míseros resultados académicos.  O cábula, o repetente...

Será aos caprichos de pessoas destas que o rebanho de caloiros se entrega, de forma tão obediente e submissa?

Se assim for, estaremos perante atividades que não passam da utilização de caloiros para a a gratificação egocêntrica de cábulas cuja presença não deveria, porventura, ser, sequer, tolerada no ensino superior!

Haja vergonha!

* * *

As imagens que vos trago foram obtidas em 8 de Outubro de 2015;  e, mesmo em data já tão serôdia, não se trata de duas situações isoladas, não.

No segundo caso fotografado, no lago da zona Sul do Campo Grande, o ritual é outro:  aqui fazem os caloiros andar dentro do lago.  Sabe-se lá porquê. Sabe-se lá para quê.

Aqui reside, parece-me, o âmago da questão:  o que são e, afinal, para que servem estas anuais demonstrações de imbecilidade, degradação e selvajaria a que chamam praxes académicas?
Faculdade de Letras
As praxes continuam, e continuarão, ainda, por alguns dias do Outono, por toda a Cidade, quais demonstrações públicas de vacuidade mental, de imbecilidade, de vaidade e de inutilidade, perante a complacência - já para não falar de apoios... - dos responsáveis pelos estabelecimentos de ensino, sejam eles reitores ou pseudo-reitores.

É que quanto a praxes, não há distinção:  sabem delas quer reitores das universidades mais egrégias, quer das recém desempacotadas à pressão, quer os diretores de escolas e institutos superiores.

Sabem, porque não podem deixar de saber.  Todos sabemos.

Mas nada fazem, porque não se atrevem, porque até é giro, porque também fizeram, porque é bom para o marketing, porque também eles são mal formados, ou sabe-se lá porquê!

Universidade NovaAlguns, procuram - ainda que sem atos, com meras declarações - demarcar-se, fazer a diferença.  Mas os bons hábitos não se propagam junto de outros responsáveis, também eles com uma bem patente e elementar falta de educação cívica;  ou interviriam.  Decisivamente!


* * *

A imprensa é prenhe de relatos de abusos, até de maus tratos, de casos do foro criminal.

Por que razão a PSP não põe cobro a esta loucuras, a estes desvarios, que em nada dignificam a nossa Cidade?

A Polícia, que tão intolerante se mostra em certos casos (veja o primeiro link abaixo), atua, aparentemente, com dois pesos e duas medidas;  e, muito provavelmente, omite-se porque tem instruções superiores para tal.

Porém, segundo um parecer da Procuradoria-Geral da República citado pelo Expresso, "manifestação será o ajuntamento em lugar público de duas ou mais pessoas com consciência de explicitar uma mensagem dirigida a terceiros".

Ora, aquilo nas imagens não são manifestações?  Dezenas de indivíduos em hordas ululantes, que estão, indubitavelmente, a passar uma mensagem dirigida a terceiros?

É que, não fosse a mensagem dirigida a terceiros, fariam aquela porcaria toda em privado, no recato das instalações da faculdade;  e não em público, a incomodar e, quantas vezes, a ofender os passantes.

Porcaria, sim:  já repararam bem no estado calamitoso em que ficam as ruas e os jardins depois destes indivíduos terem passado por lá?

Estarão devidamente autorizados?  Terão licença emitida pela Câmara Municipal de Lisboa?

Claro que não!

Por que esperam as autoridades e a CML, então?

A Universidade é, supostamente, um local de elevação da mente e do espírito,
um local de meditação, de reflexão, de investigação.

Não é, não pode ser, ainda que pontualmente,
um santuário de humilhação!



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Alguns Links:
Para a PSP Duas Pessoas São uma Manifestação (Expresso)
Ainda os Dux.... 24 Matriculas??!!! Em Coimbra não há prescrições?
Dux Veteranorum (Wikipedia)
Dux Veteranorum
Praxes em Lisboa (Observador)
Praxes em Lisboa
Foi Praxado? (Público)
Código de Praxes (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa)
Campanha de Informação sobre Praxes Académicas (Faculdade de Letras da UAL)
Praxe Académica (Wikipedia)

4 comentários:

  1. Um interessante e esclarecido comentário. Curiosamente quase coincidimos nas fotos e datas.
    http://anti-praxe.blogs.sapo.pt/fedelhos-49386

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  2. De facto, o espetáculo repete-se, recorrentemente, no Campo Grande, para incómodo e lástima de quantos o frequentam (para já não falar dos "palavrões" insistemente gritados ao megafone).
    Sinais dos tempos, suponho...
    Muito obrigado pela sua apreciação.

    ResponderEliminar
  3. Esta notícia ainda hoje em dia, ano de 2019, se aplica na totalidade e pasmo a conivência de quem deveria tomar medidas.
    Eu passo lá todos os dias e as praxes duram todo o ano lectivo, e tenho de ouvir todos os dias esses impropérios esses seres que diria quase que acéfalos. Outro dia até abordaram um senhor que por lá passava, isto no grande relvado central do lado da fachada principal da torre do tombo, como se fossem donos e senhores de todo aquele espaço. É o portuga no seu melhor

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