Fundada pelo empresário Barral
Filipe e resultante da fusão entre a Fábrica de Cerveja Leão e a Companhia
Portuguesa de Cerveja, a Fábrica de Cerveja Germânia - que funcionou, originariamente, na Rua de Arroios -, conheceu o seu primeiro impulso às mãos de uma
empresa da qual eram sócios Manuel Henrique de Carvalho, Marques de Freitas,
Luiz Serrano, Gonzaga Ribeiro, João Paes de Vasconcelos e o mestre cervejeiro Richard
Eisen, este último seu diretor técnico desde o tempo da fábrica em Arroios 1 2.
Esta sociedade viria a
adquirir o que é hoje, maioritariamente, um imenso baldio na Avenida Almirante
Reis – outrora Avenida Rainha Dona Amélia -, confinando, também com as ruas António Pedro e Pascoal de Melo, em pleno centro de Lisboa, mas
onde, em tempos, se ergueu, grandioso e rico, um conjunto de edifícios traçado
por António Rodrigues da Silva Júnior e construído, entre 1912 e 1913, por
Fernand Touzet, que fora o engenheiro das obras da moagem de Alcântara 1.
As já escassas ruínas evocam parte
do que foi, em tempos idos, um importante complexo industrial implantado em
mais de 15.000m², dotado de fábrica e caldeiras, silos de armazenagem – com
capacidade para uma “quantidade avultada de cerveja, no valor de uma porção de
milhares de escudos” -, adegas, áreas de fermentação, de filtragem, de
engarrafamento, de esterilização, sem esquecer os escritórios, o posto de
venda, a cavalariça com lugar para 80 cavalos, as oficinas de carpintaria, de
serralharia, de pintura de carros, e o “abrigo
de carroças e retretes do pessoal”, além do serviço de fiscalização do
governo, “instalado num edifício próprio,
com escritório, dormitório e outras dependências” 1.
Na fachada principal – ainda
existente -, sobre o logótipo em azulejo, uma escultura de Simões de Almeida 1.
Para evitar a associação da marca
ao conflito que deflagrou em 1914, viria a Fábrica de Cerveja Germânia a dar
lugar, em 1916, à Portugália, Lda, a qual viria a ser, a partir de 1921, a
Companhia Produtora de Malte e Cerveja Portugália, S.A. 2.
Por o seu diretor técnico ser de
nacionalidade alemã, a empresa viu os seus bens arrolados em 1916, mas obteve
autorização para continuar a laborar, apesar de parte dos bens daquele terem
chegado a ser vendidos em hasta pública 3.
Décadas depois, a fábrica viria a
encerrar, tendo os seus edifícios sido demolidos ou deixados ruir, levados ao
estado documentado pelas imagens que aqui vos deixo.
No piso térreo de um edifício de escritórios integrado no quarteirão, funciona, teoricamente, o assim chamado Centro Comercial Portugália.
No piso térreo de um edifício de escritórios integrado no quarteirão, funciona, teoricamente, o assim chamado Centro Comercial Portugália.
No entanto, apenas três lojas ainda lá funcionam, num espaço silencioso, soturno, onde algumas montras mostram o habitual “ARRENDA – VENDE – BOM PREÇO”, e um número de telefone.
Parece existir um litígio pendente entre os proprietários de algumas lojas e os proprietários do terreno, mas não consegui apurar, ao certo, quais as partes envolvidas, embora, em conversa, me tenham falado de uma instituição financeira pública portuguesa, de uma importante empresária de um país africano e de uma conhecida cadeia de restauração.
Enquanto as comadres não se entendem, continuamos na ignorância do que, verdadeiramente, se passe; e continua Lisboa com mais um exemplo bem sugestiva do dinamismo e da capacidade negocial e política daqueles a quem cabe gerir e promover a Cidade.
Knowledge only means complicity and guilt.
Ignorance has a certain dignity.
"Yes, Minister" - "Sir Humphrey Appleby"
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Fontes Bibliográficas:
1.
“Arquitectura
Portuguesa” – Ano VII – nºs 9 a 11 (Setembro a Novembro de 1914)
2.
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.413445088720875.95541.400897979975586&type=3
3.
Ficha do “Processo de
Arrolamento dos Bens da Fábrica de Cerveja Germânia, Limitada” – Arquivo
Nacional da Torre do Tombo - http://digitarq.arquivos.pt/details?id=5882202
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Cervejas do Mundo
Portugália Vende Fábrica a A. Silva & Silva
Lisboa - Cervejaria Portugália (em castelhano)
Al-Usbuna, capital do Canalhistão (Lisboa Arruinada 44)
(Postal Antigo 1)
(Postal Antigo 2)
Cinema Portugália (1954 - 1955)
Simões de Almeida
António Rodrigues da Silva Júnior
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