Na Colina de Santana, onde entroncam a Rua da Cruz da Carreira, a Rua Padre Luís Aparício e a Rua Dr Almeida Amaral, encontramos o portão de acesso ao Convento Rilhafoles, vicentino, no qual, durante um breve período de tempo esteve instalado, no séc.XIX, o Colégio Militar.
De meados do séc.XIX até há alguns anos atrás, funcionou no Convento o Hospital Rilhafoles - mais tarde renomeado Hospital Miguel Bombarda -, destinado ao tratamento de doenças do foro psiquiátrico, do qual um dos diretores foi o Dr Manuel de Almeida Amaral, que deu o seu nome à já referida artéria, que tivera, outrora, o nome do Convento.
Durante longas décadas, estes inexpugnáveis muros ocultaram, assim, a liberdade por alguns sonhada e, para outros, apenas imaginada. Talvez...
Mas os muros nada protegem contra a ganância de alguns filisteus: o Miguel Bombarda vai morrer.
Nos dias 10 a 13 do corrente mês de Setembro de 2015, promoveu a Câmara Municipal de Lisboa a cabo, na Colina de Santana, a sétima edição do Festival TODOS, com o subtítulo "Caminhada de Culturas 2015".
Atendendo, porém, à intensa pressão para que da referida Colina emerja, florescente, o apimentado - ou, talvez melhor dizendo, "salgado" - projeto de urbanização garantida que esteja a destruição do Hospital Miguel Bombarda, dificilmente poderá considerar-se inocente a escolha do local em que decorreu o Festival.
Acima de tudo, sejamos sérios, sim? Será, também, coindicência que, na área protegida, estejam, já, a ocorrer demolições de edifícios afetos ao Hospital, promovidos pela imobiliária do Estado?
E que falta do mais elementar pudor é esta, de a CML - Estado - impor sanções pecuniárias à ESTAMO - imobiliária do próprio Estado?
Se me condenarem a tirar dinheiro de um açucareiro com notas que tenho em casa para o por numa caixa, também minha, que tenho lá em casa, qual o efeito, efetivo, dessa sanção?
Afinal, que hipocrisia oficial é esta, em que empresas de capital público violam, a seu bel-prazer, a lei, sem que sanções disciplinares recaiam sobre os responsáveis diretos por tais violações?
O Movimento de Apoio ao Museu Miguel Bombarda vai fazendo o que pode.
Mas o que poderá, verdadeiramente, perante os lucros chorudos prometidos pelo projeto, construção e comercialização das novas torres? Como se o Museu e o Hospital nem existissem já!
A própria exposição que o Festival TODOS promoveu no Miguel Bombarda foi, aliás, um claro sinal da condenação à morte do edifício: nenhum texto, nenhuma informação, nada sobre a história do convento ou do hospital.
Apenas fotografias a preto e branco de propaganda de edições pretéritas do Festival.
Tudo cinzento, lúgubre, moribundo...
Entretanto, a animação irradiava de outros pontos da Colina de Santana; essa sim, promovida com esfuziantes manifestações de cor e de alegria, para atrair os incautos que se deixem seduzir... esquecendo, por exemplo, as paupérrimas acessibilidades que irão servir as nóveis construções que irão habitar.
Como se trata de propriedade pública e nenhum entrave foi posto à minha circulação ou captação de imagens quando visitei o Hospital, deixo-vos acima, para memória futura, algumas fotos que, depois de arrasados os edifícios que restam - e que, obviamente, tudo será feito para que não cheguem a ser classificados -, poderão, mais tarde, servir para documentar mais uma demonstração da fina sensibilidade de alguns dos que governam a nossa culturalmente cada vez mais depauperada Cidade.
Deixo, também, um breve testemunho, afixado em algumas montras, do esforço que o inquebrantável ânimo de algumas pessoas de boa vontade tem desenvolvido para procurar evitar... o inevitável.
Atendendo, porém, à intensa pressão para que da referida Colina emerja, florescente, o apimentado - ou, talvez melhor dizendo, "salgado" - projeto de urbanização garantida que esteja a destruição do Hospital Miguel Bombarda, dificilmente poderá considerar-se inocente a escolha do local em que decorreu o Festival.
A coberto do bodo de animação e cultura aos pobres, não se terá tudo tratado, muito simplesmente, de uma subtil, mas genial, operação de marketing imobiliário? De, a pretexto de um evento cultural, levar à Colina de Santana potenciais futuros compradores de apartamentos nas torres que nos terrenos do Miguel Bombarda se irão, inevitavelmente, construir?
Acima de tudo, sejamos sérios, sim? Será, também, coindicência que, na área protegida, estejam, já, a ocorrer demolições de edifícios afetos ao Hospital, promovidos pela imobiliária do Estado?
E que falta do mais elementar pudor é esta, de a CML - Estado - impor sanções pecuniárias à ESTAMO - imobiliária do próprio Estado?
Se me condenarem a tirar dinheiro de um açucareiro com notas que tenho em casa para o por numa caixa, também minha, que tenho lá em casa, qual o efeito, efetivo, dessa sanção?
Afinal, que hipocrisia oficial é esta, em que empresas de capital público violam, a seu bel-prazer, a lei, sem que sanções disciplinares recaiam sobre os responsáveis diretos por tais violações?
O Movimento de Apoio ao Museu Miguel Bombarda vai fazendo o que pode.
Mas o que poderá, verdadeiramente, perante os lucros chorudos prometidos pelo projeto, construção e comercialização das novas torres? Como se o Museu e o Hospital nem existissem já!
A própria exposição que o Festival TODOS promoveu no Miguel Bombarda foi, aliás, um claro sinal da condenação à morte do edifício: nenhum texto, nenhuma informação, nada sobre a história do convento ou do hospital.
Apenas fotografias a preto e branco de propaganda de edições pretéritas do Festival.
E projeções, em écrans feitos de lençóis,
de imagens descoloridas de rostos desfigurados dos infelizes que ali estiveram internados.
Tudo cinzento, lúgubre, moribundo...
Entretanto, a animação irradiava de outros pontos da Colina de Santana; essa sim, promovida com esfuziantes manifestações de cor e de alegria, para atrair os incautos que se deixem seduzir... esquecendo, por exemplo, as paupérrimas acessibilidades que irão servir as nóveis construções que irão habitar.
Como se trata de propriedade pública e nenhum entrave foi posto à minha circulação ou captação de imagens quando visitei o Hospital, deixo-vos acima, para memória futura, algumas fotos que, depois de arrasados os edifícios que restam - e que, obviamente, tudo será feito para que não cheguem a ser classificados -, poderão, mais tarde, servir para documentar mais uma demonstração da fina sensibilidade de alguns dos que governam a nossa culturalmente cada vez mais depauperada Cidade.
O Miguel Bombarda vai desaparecer, os apimentados ou salgados projetos vão florescer naqueles tão apetecíveis 43.347m², e novas torres vão brotar numa Lisboa que tanto baldio tem e vai continuar a ter.
Ninguém diz.
Apenas nos é dado adivinhar.
If people don´t know what you´re doing, then people don´t know what you´re doing wrong.
"Yes, Minister" - "Sir Arnold Robinson"
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A propósito de uma das artérias que nos levam ao Hospital Miguel Bombarda, conheci,
nos meus primeiros anos de vida,
o Padre Luís Martins Aparício, pároco de uma pequena igreja na Rua de Santa Marta.
Anos mais tarde,
foi ele o promotor e grande impulsionador da construção da nova Igreja do Sagrado Coração de Jesus.
Lisboa homenageou-o dando-lhe o nome de uma pequena rua.
Independentemente de credos e de confissões religiosas, seja-me também permitido deixar,
em post scriptum, uma sentida homenagem a um Homem Bom.
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Alguns Links:
Casa da Congregação da Missão de São Vicente de Paulo / Hospital Miguel Bombarda / Hospital de Rilhafoles (SIPA)
Memória Descritiva para o Loteamento Miguel Bombarda (CML - 2013)
O Património que o Projecto da Sogestamo Prevê Destruir no Hospital Miguel Bombarda
Candidatura para a Classificação, de Interesse Público, de Imóveis do Ex Hospital Miguel Bombarda
Hospital Miguel Bombarda Prestes a Encerrar (2011)
Associações Criticam os Projectos e o Prazo de Doze Dias do Período de Discussão Pública
Miguel Bombarda: O que fazer com Este Património?
Os Passos Sem Saída dos Alienados de Rilhafoles
O Hospital de Rilhafoles e os Asilos de Alienados na Europa do Século XIX
De Rilhafoles à Psiquiatria
Casa da Congregação da Missão de Rilhafoles ( Torre do Tombo )
Hospital de Rilhafoles / Hospital Miguel Bombarda ( Torre do Tombo )
Convento de Rilhafoles
O Colégio em Rilhafoles
Rilhafoles e o Casal Novo
Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa
Miguel Bombarda ( Wikipedia )
Memória Descritiva para o Loteamento Miguel Bombarda (CML - 2013)
O Património que o Projecto da Sogestamo Prevê Destruir no Hospital Miguel Bombarda
Candidatura para a Classificação, de Interesse Público, de Imóveis do Ex Hospital Miguel Bombarda
Hospital Miguel Bombarda Prestes a Encerrar (2011)
Associações Criticam os Projectos e o Prazo de Doze Dias do Período de Discussão Pública
Miguel Bombarda: O que fazer com Este Património?
Os Passos Sem Saída dos Alienados de Rilhafoles
O Hospital de Rilhafoles e os Asilos de Alienados na Europa do Século XIX
De Rilhafoles à Psiquiatria
Casa da Congregação da Missão de Rilhafoles ( Torre do Tombo )
Hospital de Rilhafoles / Hospital Miguel Bombarda ( Torre do Tombo )
Convento de Rilhafoles
O Colégio em Rilhafoles
Rilhafoles e o Casal Novo
Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa
Miguel Bombarda ( Wikipedia )
Dr Manuel de Almeida Amaral (Wikipedia)
No Dia Mundial da Saúde Mental a Rua do Diretor do Miguel Bombarda na Antiga Rua de Rilhafoles
No Dia Mundial da Saúde Mental a Rua do Diretor do Miguel Bombarda na Antiga Rua de Rilhafoles
Não foi assim tão mau...dependia do pessoal de enfermagem e
ResponderEliminarmédico...Adorei lá trabalhar..!